Carlos Irapuan Meyer
Esta parte especial de meu site é uma homenagem que faço ao atleta Carlos Irapuan Meyer – “Nosso craque eterno”, meu pai!
Foi somente no dia 06 de outubro de 2004 que tive um conhecimento mais profundo sobre o passado atlético de meu pai, quando recebi este email de Adalberto Day que narra toda a rica história do AMAZONAS ESPORTE CLUBE.
Meu pai sempre contava de suas jogadas, do hino do time, mas sempre dentro de um certo resguardo, timidez, humildade …O material que recebi me deixou muito mais orgulhosa dele e faço questão de expor na íntegra os email’s recebidos, bem como fotos históricas. Agradeço ao renomado historiador Adalberto Day e família, por todo este resgate, além do valor que tem para mim, por ter meu pai como um dos protagonistas!
“Passa pra lá;
Passa pra cá;
Arreda do caminho que o Amazonas quer passar;
Nosso goleiro é um destemido;
Os nossos beques de real valor;
Alfaria vai chutando pra frente;
E a nossa linha vai marcando gol.”
From: Adalberto e Dalva Day
To: karol@karolmeyer.com
Sent: Wednesday, October 06, 2004 12:50 AM
Subject: Referente nosso craque eterno'
Cara Karol
Ficamos muito orgulhosos de receber o seu e mail, podes ter orgulho de seu pai sim…pois ele foi um ídolo aqui em Blumenau, todos gostariam de revê-lo e toca-lo… ele foi um astro para nós. Se tiveres uma foto onde ele jogou no Grêmio, se puderes nos enviar ficaríamos muito gratos. Estaremos promovendo em breve uma nova festa do Amazonas, e agora que sabemos como nos comunicar, quem sabe poderemos contar com a sua presente e do nosso eterno craque. Mostrei os emails recebidos por vocês a várias pessoas, todos estão orgulhosos.
Um abraço de Adalberto Day
Caro “Mayer”
Meu nome é Adalberto Day, filho de Nicolao Day (falecido há 9 anos com 65 anos) e parente de Alberto Day (ainda vive 85 anos), eu tenho 51 anos e desde garoto era teu fã incondicional, daquele craque brilhante, veloz e artilheiro. Os beques só te paravam rasgando sua camisa …lembra? Toda comunidade pergunta por você, pode crer você não foi esquecido, só sempre tivemos dificuldades de te localizar, já nos forneceram vários números de telefones, mas sempre em vão.
Desde 1999, tentamos entrar em contato com você, mas nunca foi possível, realizamos vários encontros de ex atletas, e todos sempre lamentam sua ausência.
Com a incorporação da Garcia à Artex, o Amazonas foi destruído em janeiro de 1975, mas as lembranças e marcas ficaram profundas. Hoje com nosso acervo de mais de 50 fotos do clube, bandeiras troféus, o Amazonas não morreu, vive nos corações dos Garcienses e de toda a Blumenau, inclusive reportagens são feitas comigo seguidamente, em jornais, tv e até palestras nas empresas, onde enfocamos toda a história do bairro. Temos um livro para ser publicado, faltando apenas alguns acerto. Te mando em anexo uma ou outra foto para sua recordação, e esperamos não parar por aqui, gostaríamos de sua visita breve em nossos encontros ou até em minha residência, em Blumenau.
Segue um pequeno histórico.
Histórico e fundação
Ao mencionar o clube Amazonas Esporte Clube, é preciso conhecer um pouco de sua história. No ano de 1919 foram fundados três clubes em Blumenau, o Blumenauense 14 de agosto, depois Grêmio Esportivo Olímpico (em Blumenau em cadernos na edição abril /maio de 2004 pág. 100 afirma que a data de fundação do Olímpico deu-se em 1920 e não 1919), o Brasil 19 de julho, depois Palmeiras Esporte Clube, e o Amazonas Esporte Clube 19 de setembro de 1919 (em nossas pesquisas, vários moradores afirmam que o Amazonas foi fundado em 01 de julho de 1919, e que a bandeira que possuímos de 01 de julho de 1920, foi um presente doado por bordadeiras da comunidade na passagem do primeiro ano de existência do Clube) . – S.E. Vasto Verde fundado em 27-10-1944 (antes com nome de Victoria) – Guarani fundado em 09-02-1929 antes com o nome de América).
O clube Alvi – Celeste – ou anilado como era conhecido o Amazonas, fundado por empregados da Empresa Industrial Garcia ,já praticavam o futebol desde o inicio do século XX, era o time proletário do bairro Garcia, teve como primeiro estádio por alguns meses, onde hoje é o batalhão do exercito. Depois se transferiu para as proximidades da Rua Ipiranga (conhecida como Rua Mirador), por quase cinco anos, posteriormente por alguns meses, na rua Progresso próximo a Artex, onde existia um bar conhecido como Bar do Iko, e, finalmente, em 1926, mudou-se para o definitivo local, próximo a Empresa Garcia, até ser aterrado pela Artex, em 1974.
O nome da praça de esportes Amazonense, se chamava estádio da Empresa Industrial Garcia, o mais belo de Santa Catarina até então. Relembro com muita tristeza a enxurrada de 31 de outubro de 1961, que destruiu totalmente toda praça esportiva, inclusive o salão, e ali foram encontradas três vitimas fatais presas ao alambrado. O reduto Amazonense ficou em ruínas, tal a violência da água que transbordou do curso normal do ribeirão Garcia, para causar destruição geral e deixar um rastro de calamidade. O gramado praticamente sumiu, tal o acumulo de areia, pedras, lama, árvores, móveis, balcão frigorífico, material esportivo, troféus, tudo ficou inutilizado.
Neste período de recuperação do estádio, que se tornou mais bonito, sediando até competições dos primeiros jogos abertos em Blumenau em 1962, o Amazonas treinava num estádio construído provisoriamente próximo de onde hoje é a praça Getulio Vargas Nos jogos oficiais, o mando de campo era no estádio do Palmeiras E.C, O Estádio foi re inaugurado em 23 de setembro de 1962, com a realização de um jogo amistoso entre o Amazonas e o Marcilio Dias, com a praça esportiva completamente tomada pelos torcedores, mas o placar foi desastroso para o Azulão que após fazer um bom primeiro tempo, perde por 6×2 na fase derradeira. Mas nada que ofuscasse o brilho das festividades, em seu magnífico estádio.
O esquadrão de peso no cenário Catarinense
Composto por grandes jogadores que trabalhavam na Empresa Industrial Garcia ou Cooperativa de Consumo dos Empregados, em sua grande maioria, residia em casas de propriedade da Empresa localizadas nas imediações, o time Amazonense foi bom de bola, principalmente no amadorismo, quando enfrentava várias agremiações de todo estado, obtendo resultados expressivos, qualificando-o como um dos melhores clubes de Santa Catarina, no período compreendido entre 1919 e 1944 principalmente, o chamado antigo Amazonas Esporte Clube.
As histórias registram grandes goleadas aplicadas durante os anos de 1934 a 1936, vejam alguns resultados : 6×1 no Caxias de Joinville, 7×3 no Brusquense, 9×0 no Passando, 5×1 no Marcílio Dias, chegando na ocasião a desafiar a Seleção Catarinense e derrotando-a pelo escore de 4×2.
É bem verdade que o onze anilado perdeu algumas partidas por um placar elevado, mas também aplicou pesadíssimas goleadas em adversários de categoria, como ocorreu em 18 de dezembro de 1938. Na tarde daquele dia, no seu belo estádio ; o Amazonas aplicou uma terrível goleada no Brasil (Palmeiras-BEC) 9 x 1 foi o placar. Também nesse ano aconteceu a maior goleada imposta pelo Amazonas ao Blumenauense (Olímpico) 6 x 2 foi o placar.
Em 1939, o Grêmio Esportivo Olímpico promoveu um torneio no dia 09 e 10 de abril para a inauguração de seu estádio. O Amazonas sagrou-se campeão do 1º torneio disputado neste estádio.
Em 1957 conquistam o torneio Sebastião Cruz com extrema facilidade. Ainda em 1957 o Amazonas vence um torneio quadrangular que teve a participação também do Palmeiras, Tupi, e Vasto Verde.
Em 1958 o Amazonas vence com facilidade a liga de amador,o placar mais elástico foi 11×0 no Floresta com quatro gols de Filipinho e vence também o torneio inicio no estádio da baixada.
Em 1959 o Amazonas é tri campeão do torneio extra Sebastião Cruz e campeão de um triangular invicto realizado com Olímpico e Tupi, e também campeão de um torneio promovido pelo Olímpico.
Em 1960 e 1961 o Amazonas faz boa campanha já no profissional, mas é vice.
No dia 1º de setembro de 1961, o Amazonas perde por 1×0 na prorrogação para o Olímpico, com o estádio lotado a torcida Amazonense divide as arquibancadas com o rival. O Amazonas jogava melhor mais sofre o gol e perde o titulo, o empate daria o titulo ao clube alvi celeste. Com o gol de Orio, morre ao lado, onde estávamos na arquibancada, um torcedor fanático do Olímpico, (meu pai e eu estávamos presentes).
Em 1962 o Amazonas é campeão na baixada (Estádio do Olímpico) do torneio inicio da LBF.
Em 1963 o onze amazonense não faz boa campanha. Em 1964 e 1965 a participação é discreta nos torneios, ganhando apenas alguns jogos amistosos com times de grande expressão do Vale, ficando com alguns vice-campeonatos.
Em 1966, o Amazonas é campeão do quadrangular disputado com o Guarani, Vasto Verde e Tupi.
Em 1967 outra participação discreta.
Em 1968 também discreta participação, mas campeão juvenil invicto em cima do Olímpico no estádio Grená, com o escore de 3×1.
Em 12 de janeiro de 1969 a diretoria decide extinguir o departamento profissional, mantendo o amadorismo, ano em que promoveu uma festa do seu cinqüentenário de fundação. Em 1970 e 1971 é vice-campeão da 1ª divisão de amadores.
Em 1972 o Amazonas é campeão da LBF- 1ª divisão de amadores. Em 18 de junho morre José Pêra ex-jogador, dirigente, técnico, em um trágico acidente na rodovia Jorge Lacerda.
Em 1973 o Amazonas é bi-campeão invicto da LBF – 1ª divisão de amadores.
Cantinho de Saudade
Quantos jogos memoráveis, que os torcedores Amazonenses presenciaram durante muito tempo. Ver os gols do grande Nena Poli, Leopoldo Cirilo, as defesas de Rudolf Rosumek, do Antonio Tillmann, do Nino do Ziza, Valdir, Deusdith, Gaspar, a zaga firme Oscarito, Tenório,Osny, Cilinho Corsini, Eloy, Vilmar Heiden (que jogou na meia esquerda,ponta), Elizeu,Nicassio muita classe e o Malheirinho talentoso, os chutes fortes do Chico Siegel, Ivo Mass, Tarcisio Torres, e os pênaltis cobrados pelo Gepe …que categoria! O Arlindo Eing, Rizada, enfim, tantos que fizeram a glória do Amazonas. “Dizem os mais idosos, que jogou por aqui algumas partidas, o jogador Patesko, jogador do Botafogo do R.J., que também jogou na Seleção Brasileira”.
Como esquecer os gols de bicicleta do Filipinho, e aquele gol de calcanhar que o Dico fez contra o Palmeiras, as arrancadas fulminantes do Mayer,(em nossas pesquisas todos apontam Mayer e Gepe como os maiores) que quase sempre se transformava em gols, o Celinho, Duflis artilheiros natos, Nilson (Bigu) – um dos maiores goleadores do Amazonas.
Curiosidades
Da vida futebolística Amazonense, alguns momentos a registrar; em 23 de julho de 1939, o torneio que o Brasil (Palmeiras-Bec) realizou para comemorar o 20º aniversário de fundação, o Amazonas teve o prazer de ganhar o 50º troféu de sua existencia até aquele momento, vencendo o torneio.
Certa vez por volta de 1957, após uma vitória de 2×1 sobre o seu arqui-rival do bairro, o já extinto time do Progresso, os jogadores do Amazonas vieram a pé do campo do Progresso (hoje Canto do Rio), cantando a seguinte marchinha:
Passa pra lá;
Passa pra cá;
Arreda do caminho que o Amazonas quer passar;
Nosso goleiro é um destemido;
Os nossos beques de real valor;
Alfaria vai chutando pra frente;
E a nossa linha vai marcando gol.
Conta o Sr. Mauro Malheiros, do tempo em que atuava pelo Amazonas. Também o contou-nos que muitos chamavam os jogadores do Amazonas, de capilé com cuca, apelido este dado aos jogadores, pois eram todos empregados da Empresa Industrial Garcia, que não poderiam chegar atrasado ao serviço após um jogo de futebol.
O fim melancólico
A incorporação da Empresa Garcia a Artex em 19 de fevereiro de 1974 marcou o começo do fim de uma era brilhante no esporte blumenauense. Os dirigentes da Artex acabaram com o clube, mas ergueram um novo e moderno estádio, no antigo campo do América, que anteriormente era conhecido como pasto do Sr. Bernardo Rulenski, seu antigo proprietário. Por volta de 1970, a Artex comprou este local e fundou em 1971 a Associação Artex.
O fim foi inevitável, mas trouxe muita revolta por parte de dirigentes, jogadores e torcedores, que ao saber do enceramento das atividades, alguns saquearam a sede e levaram tudo que pudessem, para ter alguma coisa como recordação, sem interferência da direção para o ocorrido, tanto é verdade que nada existe na Associação Artex, que mostre a existência da agremiação sou sabedor deste episódio, pois trabalhava na área de Recursos Humanos, onde possuía acesso a estas informações.
O princípio do fim
Foi a 26 de maio de 1974, um domingo bonito com sol, mas sombrio pela circunstância, que o Amazonas se despediu para sempre do seu magnífico estádio, uma baixada que foi impiedosamente aterrada, pela Artex, em trabalhos de terraplanagem executado por duas possantes maquinas da Construtora Triângulo, o Amazonas vence o Tupi de Gaspar por 3×1, com 2 gols de Bigu e um de Tarcisio Torres, pelo campeonato Taça Governador Colombo Machado Salles.
Como Cientista Social, historiador e antigo atleta, em diversas modalidades do Amazonas, procurei resgatar a história do clube, pesquisando junto à comunidade, ex-jogadores, e muitos deles me doaram fotos, troféus, bandeiras, camisas, e informações as quais pude transcrever em jornais, e repassar, através de documentários, radio tv, e escolas e fizeram isto com orgulho, alguns com idade avançada, repassaram seus objetos para mim, pois tinham a segurança, que após sua morte, alguém zelaria como memória histórica de uma época de nostalgia, amor, determinação e colaboração e brilhantismo.
Presenciei muitas partidas memoráveis no estádio da Empresa Industrial Garcia, desde o início dos anos de 1960 até o último jogo no seu magnífico estádio no dia 26 de maio de 1974, quando joguei na preliminar.
Considerações finais
Os dados aqui relatados são uma pequena amostra, do que foi a trajetória gloriosa do Amazonas Esporte Clube, da qual orgulhosamente pude conviver em parte, com os antigos jogadores que iniciaram o clube, como também com os que jogaram nos anos 50,60,70 e até o último jogo em 1974.
Com orgulho hoje verifico que não foi em vão todo sacrifício que tenho passado desde garoto com o resgate da história do bairro, da Empresa Industrial Garcia e Amazonas Esporte Clube, pois a procura por informações no acervo que guardo com muito carinho, tanto por jornalistas, emissoras de radio e tv, de educandários, do nível, fundamental e médio, até de Itajaí e Brusque, e também de pessoas da universidade federal de Santa Catarina, e da Universidade de Blumenau (FURB) tem sido muito grande.
A história sempre mostrará as vivências, das comunidades que quando se organizam, conseguem fazer sucesso, e a esses atletas mencionados ou não, o nosso carinho e respeito.
Compreendendo o passado histórico de uma equipe, de um povo, entenderemos o presente, e assim poderemos projetar um futuro melhor e mais brilhante para nossa comunidade.
Toda trajetória do Time será contada em livro em breve !