Segurança no mergulho livre
- Karoline Meyer
- 1 de abr.
- 10 min de leitura
Atualizado: 2 de abr.

O mergulho em apneia, ou freediving, ou mesmo mergulho livre, vem se popularizando, sendo reconhecida a sua necessidade em treinamentos que vão além do mergulho em si, mas que envolvem performance em outros esportes e também como requisito para cursos, habilitações e especializações de profissionais que trabalham na área de segurança e salvamento aquático.
Independente da aplicação da apneia, a regra é clara e de extrema necessidade de observância.
Seguir essas regras reduzirá as chances de um acidente devido a um problema fisiológico ou técnica/tática inadequada de procedimentos de segurança no mergulho livre:
Nunca mergulhe sozinho e selecione seu parceiro.
Profundidade – Nunca mergulhe ao mesmo tempo que seu parceiro.
Avalie as condições de mergulho para definir o treinamento adequado e a segurança.
Tenha sempre, no mínimo: ponto de apoio (bóia), um cabo guia marcado e esticado por um peso de no máximo10kg, hidrodinâmico para facilitar o seu deslizamento caso necessite ser puxado, no final do cabo um "stopper" que sinaliza o final ou o fundo atingido, um cabo de segurança de aço chamado de "safety lanyard" que é preso ao cabo guia, possui sistema para não enroscar e de rápida soltura, com a outra extremidade presa ao pulso do mergulhador. No barco é obrigatório O2, primeiros socorros e rádio.
“Timing” é a habilidade ou ação de avaliar o momento certo para realizar uma ação numa situação ou atividade. O “timing” ou tempo no mergulho em apneia é um dos pontos mais abordados nos cursos quando tratamos de segurança do mergulhador.
Como aplicar o timing na função de freediver de segurança:
Estime o tempo de 1” para cada metro de profundidade que o mergulhador atinja, e desça no tempo em que este estiver virando para retornar.
É possível “sentir” no cabo guia uma tração feita pelo freediver ao fazer o retorno no cabo guia, como informação adicional.
O safety freediver, partindo neste tempo, encontrará o freediver retornando exatamente na zona crítica e estará com energia para oferecer socorro imediato!
Ex.:um mergulho à -13metros levará de 13 a 15” de descida, o safety freediver descerá ao seu encontro neste timing.
E se o safety descer e não encontrar o freediver no cabo? Aciona os demais sistemas de segurança disponíveis, desde o momento em que não visualizá-lo, através de sinais pré-estabelecidos usando o próprio caboguia (tracionando-o várias vezes ou um sinal sonoro).
O safety freediver de superfície rapidamente acionará os demais sistemas que podem ser: contra peso, sputinik, scooter ou até mesmo um mergulhador scuba de prontidão.

Obs.: todo o protocolo do timing não funcionará perfeitamente caso não seja utilizado o cabo de segurança (safety lanyard) que manterá o freediver preso ao cabo guia e permitirá sua rápida localização e deslocamento para superfície.
O acionamento dos demais sistemas de segurança não poderá exceder ao tempo total estimado de mergulho, neste caso do exemplo, de 26 a 30”.
O timing, juntamente com o cabo de segurança, são umas das nossas principais ferramentas de segurança e intervenção em caso de pouca visibilidade, corrente, temperatura da água ou superfície agitada. Aliado a isto, a comunicação e execução do plano de emergência.
Na linha da água é muito importante fazer com que o mergulhador retome a ventilação rapidamente, pois inicialmente, na maioria dos casos, trata-se somente de uma parada ventilatória. O mergulhador em apneia demora muito mais para "afogar" por ter a proteção do "bloqueio de glote" e o próprio treinamento que o protege nestes minutos até o socorro. Para isto há um protocolo específico de continuidade do resgate:

1° Tirar as vias aéreas do apneísta para fora da água
2° Tirar máscara, snorkel, grampo... tudo que atrapalhe as vias aéreas
3° Manter as vias aéreas fora da água e desimpedidas/nuca virada para trás, aplicar o “tap, talk and blow” (tocar, falar, assoprar) e checar se está respirando (tempo de ação 10” senão 5 ventilações resgate)
4° Chamar socorro, levar o apneísta para o apoio ou borda para preparar sua saída da água.
5°Iniciar as técnicas de RCP até chegada de suporte.
Qualquer mergulho à profundidades maiores que 30metros requer mergulhador scuba de prontidão com equipamento organizado (lift bag e garra para elevar o cabo guia) ou sistema de contrapeso apropriado.
Diferentes condições de mar/lago podem exigir mergulhadores de segurança em intervalos mais frequentes.
É possível incrementar a segurança com safety freediver utilizando "scooter".
Outro sistema simples de ser aplicado é: além de retirar o lastro do mergulhador, efetuar a descida de resgate com o peso amarrado em um cabo paralelo, que sirva como um sputinik, facilitando ainda mais a descida e a subida do safety freediver.
Nunca espere para agir, nunca espere para socorrer... Na dúvida aja!

Temos o timing a ser respeitado pelos praticantes para evitar acidentes como: doença descompressiva, perda de controle motor, barotraumas e apagamento. Para isto é crucial respeitar intervalos de descanso na superfície e planejamento do mergulho de acordo com a avaliação das condições.
Intervalos de descanso na superfície são importantes para uma ótima preparação e sucesso do mergulho, assim como evitam uma hipercapnia e carbonarcose.
Observe o intervalo de descanso na superfície necessário entre os mergulhos rasos (até 20metros - mínimo 3minutos), abaixo dos -20metros no máximo 6 a 8 mergulhos por hora. * Regra Dr Corriol Cardiologista e pescador sub. O propósito disso é permitir o balanceamento de gases retornem ao normal O2 e CO2 e ajustes de ácido láctico.
Siga o tempo de intervalo na superfície também para efetuar os mergulhos de segurança. Você pode adquirir um computador de mergulho que o auxiliará muito com alarmes de profundidade e de tempo de superficie.
Nunca faça mergulho livre após um mergulho autônomo. O nitrogênio restante nos tecidos após o mergulho autônomo pode levar à doença de descompressão quando as microbolhas são recomprimidas e sua consequente expansão na rápida subida durante um mergulho livre subsequente.
Nunca force na flexibilidade do seu tímpano.
Equalize somente na descida (a cada 3m aproximadamente). Nunca force uma equalização. Nunca continue após uma falha na equalização – aborte o mergulho!
Não "aposte" na flexibilidade do tímpano em profundidades maiores, se você errar o palpite, o resultado pode ser um tímpano estourado com suas consequências associadas: vertigem extrema, náusea, desorientação e apagamento.
Nunca equalize na subida.
Um clipe nasal, quando usado, deve ser removido no início da subida.
Esteja sempre corretamente lastreado (peso colocado no cinto de mergulho). É perigoso mergulhar com muito peso. Isso pode causar problemas de equalização na descida e na subida pode causar um gasto desnecessário de esforço.
Antes de mergulhar, faça um plano de mergulho completo e estime as condições do mar e o que fazer em caso de emergência. Como as condições do mar afetarão o mergulho e a segurança, ou seja, correnteza, visibilidade, temperatura da água, ondulação, distância da costa e tráfego de superfície.
A corrente, a baixa visibilidade, a temperatura da água indicam a necessidade de atenção maior nos procedimentos de segurança (no mínimo 3 dos citados acima).
Retire o snorkel da boca.
Ao retornar à superfície, evite limpar o snorkel por expulsão da água com a expiração forçada. Manter o snorkel em profundidade complica a equalização e, quando as contrações do diafragma começam, pode levar à imediata aspiração de água.
Nunca expire (solte o ar) debaixo d’água. A expiração na descida pode causar problemas iniciais com a equalização. Na subida, causa perda de flutuabilidade e, portanto, mais esforço na subida. Com qualquer queda drástica na pressão nos pulmões, a reserva restante de oxigênio no sangue irá para o pulmão e não para o cérebro, causando, portanto, um apagamento.
Nunca mergulhe sem equipamentos de qualidade e treine para manuseá-los.

Quando uma bóia e não o barco é usado para suspender o cabo guia, ela deve ser laranja ou vermelha para ser facilmente visível ao tráfego de superfície. Ela deve ser suficientemente grande para que não possa ser puxada para baixo da superfície, mesmo por dois mergulhadores subindo juntos. Sua finalidade é dar suporte ao cabo guia de mergulho (segurança) e dar ao mergulhador na superfície um lugar tranquilo para preparar seu mergulho.
O cabo guia deve ter pelo menos 10 mm de espessura para permitir uma boa pegada, de preferência na cor branca. Sua finalidade é indicar a subida e descida vertical.
Este cabo também serve como segurança. Um mergulhador que perde uma nadadeira ou tem uma cãibra na perna pode usar os braços e puxar para a superfície.
5 kg geralmente são adequados para mergulhos no lastro constante, enquanto para imersão livre, dependendo da espessura dos trajes usados, um peso de até 10kg pode ser necessário.
O barco deve hastear a bandeira "mergulhador submerso".
Se você estiver executando 85% ou mais do seu máximo ou tentando um recorde pessoal, vários mergulhos profundos podem estressar severamente e aumentar o acúmulo de ácido láctico pode ser perigoso em mergulhos subsequentes. Nunca faça mais do que 1 ou 2 mergulhos de profundidade máxima em uma sessão.
Nunca hiperventile. Hiperventilação é mais de 15 respirações profundas por minuto. Isso predispõe um mergulhador a começar a descida em tensão com uma alta taxa de batimento cardíaco e CO2 reduzido. Um equilíbrio inadequado de O2 e CO2 pode prolongar a "fase fácil" de apneia às custas da "fase de luta" e pode levar ao apagamento. A ventilação adequada tem os seguintes objetivos: saturação máxima de O2 e taxa de pulso mínima. Isso é alcançado por ventilação lenta, profunda, com relaxamento e concentração, sem exageros.
Evite uma virada de retorno muito rápida. Uma virada muito drástica no final da descida pode levar a um "apagão em águas profundas". Isso pode ocorrer em mergulhos muito profundos, onde a mudança circulatória já é um fator a ser observado.
Nunca olhe para baixo na descida ou para cima na subida. A extensão do pescoço causará dificuldade na equalização na descida e na subida e afetará o fluxo sanguíneo necessário para o cérebro e aumentará a pressão na área dos barorreceptores no pescoço, enviando a mensagem errada ao sistema nervoso central, o que pode aumentar a frequência cardíaca. Também é contrário a uma posição hidrodinâmica.
Não aumente o ritmo na última parte da subida. Economia de movimento é essencial para conservar O2 (oxigênio) e manter a frequência cardíaca baixa. No momento da virada, paciência, calma e economia de esforço são essenciais. Durante a subida, um ritmo deve ser preservado durante todo o percurso, apesar do acúmulo de ácido láctico.
Os perigos dos mergulhos com "pulmão vazio": Mergulho 'Empty Lung' é técnica avançada que deve ser abordada com extrema cautela e sob a supervisão direta de um instrutor experiente nessas técnicas. Danos graves e possivelmente permanentes ou morte podem resultar se mal aplicados.
O mergulhador começa a descida com O2 baixo e pode desmaiar sem aviso em profundidade onde ele estará negativo.
Se ele não tiver um laringoespasmo neste ponto, a pressão negativa em seus pulmões irá succionar a água e provocar afogamento.
Um safety freediver com os pulmões cheios deve acompanhar o mergulhador durante todo o mergulho.
O exercício Pulmões Vazios nunca deve ser feito com um cinto de lastro.
Não mergulhar após samba (PCM) ou apagamento.
Qualquer categoria de 'Perda de Controle Motor' (PCM) no final de um mergulho deve indicar o fim do mergulho para o freediver naquele dia. Cianose, ou seja, lábios azuis, no final de um mergulho deve indicar que um mergulhador está em seu limite naquele dia. Ele deve ser encorajado a mergulhar apenas em profundidades mais rasas.
Dê tempo suficiente para a adaptação fisiológica.
O corpo precisa de tempo e práticas para se adaptar a novas e extremas condições de apneia prolongada e grande pressão.
A temperatura da água pode agravar ou exacerbar enormemente os problemas acima e não deve ser subestimada. O corpo é muito flexível e tolerante, mas ainda é essencial dar a ele tempo suficiente para se adaptar a novos estresses.
Uma corrida precipitada em busca de maior profundidade ou de maior tempo de apneia pode resultar em trauma físico grave ou criar um "bloqueio" mental.
Problemas como rinite, edema pulmonar ou outros barotraumas pulmonares, ou até mesmo certos tipos de problemas cardíacos podem resultar de "forçar" mergulhos profundos e muito rápidos.
Evite sugestões mentais negativas. Estados emocionais extremos podem levar ao estresse, maior consumo de oxigênio e, portanto, antecipam o perigo de apagamento. A psicologia do mergulho livre trabalha com o poder da respiração para estabilizar os pensamentos e como a sugestão mental e a forma de pensar positivamente podem auxiliar muito no desempenho do mergulho.
Nunca mergulhe quando estiver cansado ou com frio: Frio, cansaço, álcool e drogas prejudicam o julgamento e a capacidade de prender a respiração e predispõem o mergulhador ao apagamento. Um dos primeiros sintomas da hipotermia é o cansaço, o julgamento prejudicado, além do acúmulo de ácido láctico, que pode ser mortal. Assim que você sentir frio, sua capacidade de prender a respiração já estará comprometida. Não subestime o frio.
O congestionamento obviamente leva a dificuldades de equalização e ao maior perigo de "bloqueio reverso".
Alimentação e Hidratação: É recomendado não fazer mergulho livre dentro de 4 horas de uma refeição completa ou duas horas após um lanche leve. Um grande volume de sangue que poderia estar carregando O2 para o cérebro está sendo desviado para o sistema digestivo. A nutrição do mergulho livre é uma questão completa em si mesma e deve ser entendida. Veja artigo anterior aqui no blog.
Desidratação, no mergulhador livre pode ser causada por vários fatores: o reflexo de mergulho dos mamíferos (maior produção de urina), a expulsão de grandes quantidades de água durante a ventilação e as trocas químicas necessárias para a produção de energia.
A água deve estar presente em todas as sessões de mergulho e os mergulhadores devem ser encorajados a beber. A desidratação aumenta muito o risco de apagamento, doença descompressão e agrava severamente os problemas de equalização.
"Conheça-se". Um Freediver não é um super atleta todos os dias ou em todos os mergulhos.
Um mergulhador livre deve aprender a estar em contato consigo mesmo/a o tempo todo e saber quando pode performar e quando necessita recuar, saber quando está encontrando desculpas ou sendo mentalmente preguiçoso, e quando há uma limitação real. Isso pode ser um problema de ouvido de um trauma anterior, o início de uma febre ou gripe... Avalie-se de forma sincera.
Para as mulheres, saber que o momento da ovulação é o menos apropriado para o mergulho, no qual podem ter dificuldades maiores de equalização ou se sentirem particularmente cansadas.
O ciclo menstrual pode causar alterações no sistema respiratório, como congestão nasal, coriza e espirros. A falta de fôlego é intensificada durante a época da ovulação. Segundo pesquisadores, a causa dessas alterações pode estar no aumento da temperatura corporal, que ocorre durante a ovulação. Isso afetaria as vias respiratórias e também a maneira como o corpo responde a infecções.
Os níveis de progesterona aumentam após a ovulação, o que pode causar inchaço nas mucosas nasais e a retenção de líquidos também contribui para o desconforto.
A variação hormonal também gera sensações de ansiedade e estresse.
Estar sempre em condição de saúde apta para o mergulho.
Um mergulhador livre sempre será, também, um safety freediver.
Realize um curso, treine, pratique resgate, respeite as regras e seja um propagador delas!
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